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Pediculose

Autor: Francine Pastuch
Colaboradores: Juliana Feijó, Marina Zavadinack

Introdução

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Fonte: http://www.sccgov.org/sites/vector/What%27s%20Bothering%20You-/Human%20Lice/Pages/Human-Lice.aspx

     A pediculose é uma doença dermatológica parasitária decorrente da infestação por piolho. É desencadeada no homem por três tipos de parasitas, sendo eles: Pediculus humanus capitis, ou piolho de cabeça; o Pediculus humanus corporis, ou piolho do corpo; e o Phthirus pubis, piolho da região pubiana, vulgarmente conhecido como chato. Estes parasitas alojam-se na base dos pelos, onde depositam seus ovos.
A manifestação clínica é variável para cada hospedeiro, podendo ser assintomática ou polissintomática, apresentando-se inicialmente na forma de coceira e irritação, podendo provocar lesões na pele, predispondo a infecções bacterianas secundárias.

 História

A infestação por piolho é uma condição bastante antiga. Relatos encontrados na Bíblia, apontam a existência dessa doença no Egito, por volta de 1300 a.C, descrita como a terceira praga narrada por Moises.   No Peru, foi comprovada a infestação em múmias por Pediculus humanus, e no Brasil, na cidade do Piauí, múmias datadas de 10.000 anos foram registadas contendo ovos de Pediculus capitis.
Durante a Primeira Guerra Mundial o piolho teve importância significativa, sendo responsável pela morte de cerca de 10 a 20 mil soldados devido a sua capacidade de transmitir certas doenças, em especial àquelas causadas pelas Rickettsias, como por exemplo, o tifo exantemático, além de outras enfermidades como a febre das trincheiras e febre recorrente. A transmissão dessas doenças foi, mais tarde, atribuída à espécie Pediculus humanus corporis.

Epidemiologia

A pediculose causada pelo Pediculus cappitis, é uma doença de alta prevalência mundial. É considerada hiperendêmica nas Américas e em várias regiões do Brasil, chegando a atingir cerca de 30% das crianças em idade escolar. Embora a pediculose do couro-cabeludo não esteja diretamente associada à transmissão de outras doenças, ela está, sem dúvidas, ligada ao alto nível de abstenção escolar.
Qualquer pessoa exposta à doença está passível de ser parasitada por piolhos, independente do sexo, raça ou classe social, sendo a prevalência maior em alguns grupos. Crianças na idade escolar são mais susceptíveis ao acometimento por Pediculus humanus capitis, justamente por compartilharem hábitos que possibilitam o contágio, como o contato direto e convivência com um grande número de crianças, e o compartilhamento de objetos. Há predominância da doença no sexo feminino possivelmente devido ao comprimento do cabelo, implicando em maior exposição do indivíduo ao contágio, bem como aumentando o grau de dificuldade no manuseio de medidas de controle como, por exemplo, a escovação do cabelo. Fatores hormonais podem ter papel significativo na instalação da doença, já que alteram as características do couro cabeludo, além de influenciar o perfil comportamental dos indivíduos. Mulheres adultas também têm maiores chances de contrair pediculose devido ao seu maior convívio com crianças, especialmente devido às profissões as quais exercem.
Por outro lado, a parasitose causada por Pediculus corporis é mais rara, sendo apenas relatada em casos isolados no Município de São Paulo, não representando ameaça a saúde pública, embora seja de grande importância para a vigilância epidemiológica devido à capacidade de transmitir outras doenças. Apresenta-se mais comum em pessoas de idade mais avançada, em países não industrializados, nos quais o hábito de lavar e trocar as roupas são menos comuns. Geralmente estão restritos a ambientes de pouca higiene e promiscuidade, como por exemplo, penitenciárias, asilos e instituições de caridade. A pediculose pubiana não apresenta dados populacionais no Brasil.

 Transmissão

A transmissão da pediculose se dá geralmente por contato direto, repetido e prolongado com pessoas ou utensílios contaminados. A contaminação por piolho de couro-cabeludo (P. H. capitis) é mais comum via contato direto cabeça a cabeça. Embora menos prevalente, pode ocorrer infestação por compartilhamento de objetos como, por exemplo, bonés, pentes, travesseiros etc., e mais raramente, ocorre apenas por convivência próxima, sem que haja o contato direto. A transmissão pelo vento, embora possa acontecer, é muito pouco provável.
A pediculose pubiana é uma doença sexualmente transmissível e a contaminação ocorre por contato direto durante o ato sexual. O compartilhamento de objetos é, igualmente, uma importante causa de infestação. A transmissão do Pediculus corporis é feita pelo uso ou compartilhamento de vestimentas, roupas de cama e travesseiros contaminados. 

Agente etiológico

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http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/pediculose-pubiana/Agente etiológico */

O piolho é um artrópode, mais precisamente da classe Insecta. É um ectoparasita hematófago, ou seja, se alimenta do sangue do hospedeiro.  Ao contrário da crença popular, piolhos não possuem asas e, consequentemente, não voam.
Seu ciclo de vida é composto por três fases: A primeira delas é o ovo, também conhecido como lêndea, evoluindo para ninfa, fase composta por três estágios e por fim, tornam-se adultos diferenciando-se em macho ou fêmeas.  Diferenças significantes entre as espécies referem-se ao lugar em que parasitam e o local de postura das fêmeas, embora possam ocorrer variações segundo as características do hospedeiro. O Pediculus humanus capitis aloja-se no couro cabeludo ao passo que a fêmea, da mesma espécie, faz a postura de seus ovos nos fios de cabelo. O Pediculus humanus corporis infesta o corpo e roupas e a postura das fêmeas costuma ocorrer nas dobras presentes nas roupas. O Phthrius pubis é mais comumente encontrado parasitando pelos da região pubiana, podendo ser encontrado em outros locais como cílios, sobrancelhas, barbas e axilas.

Manifestações Clínicas

Todos os tipos de pediculose têm como primeiro sinal de infestação o prurido no local de parasitismo (corpo, couro cabeludo e região pubiana) e irritação. A coceira, provocada pela reação de enzimas anticoagulantes e anestésico liberadas pelo inseto no local da picadura, predispõe ao aparecimento de escoriações e feridas, que se tornam porta de entrada para infecções bacterianas oportunistas. Em indivíduos com hipersensibilidade, as manifestações se desenvolvem de forma mais intensa, podendo ocorrer reações cutâneas generalizadas ou sistêmicas.
Na infestação por Pediculus capittis, infecções bacterianas secundárias, como por exemplo, por estafilococos, podem gerar um quadro clínico de impetigo. As crianças infestadas por piolhos tendem a apresentar dificuldade de concentração, podendo inclusive influenciar no rendimento escolar, além disso, apresentam coceira intermitente, em geral na região atrás da orelha e nuca, e distúrbios do sono. Infecções maiores podem ocasionar febre, anemia, e perda de peso.


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Fonte: http://www.skinsight.com/child/pediculosisCapitisHeadLice.htm

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Fonte: http://see.visualdx.com/diagnosis/pediculosis_corporis

     Em infestações prolongadas da pediculose do corpo, por outro lado, verifica-se um quadro de melanodermia, com espessamento e pigmentação excessiva de melanina na epiderme. Indivíduos mais sensíveis desenvolvem um quadro clínico característico de urticária.
Quanto ao piolho pubiano, a infestação caracteriza-se pelo aparecimento de manchas azuladas na região do abdome e coxas. Indivíduos com manifestação crônica podem apresentar infiltração da pele que se apresenta então hipercorada com melanina.

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Fonte: http://www.ask.com/wiki/Pediculosis_pubis

O acometimento das sobrancelhas por Phthirius pubis pode ser causa de blefarite e caracteriza-se por coceira intensa, lacrimejamento, com possível acometimento da conjuntiva.

Diagnóstico

O diagnóstico das pediculoses baseia-se na sintomatologia apresentada pelos indivíduos e na observação da existência de parasitas adultos e lêndeas nos lugares acometidos. Deve-se atentar para as lesões características na região da nuca e fazer a busca ativa por piolhos, que frequentemente são encontrados na pediculose do couro cabeludo. É imprescindível fazer o diagnóstico diferencial com caspa e escabiose, pois erros no diagnóstico com continuidade no tratamento são importantes causas do aparecimento da resistência dos piolhos aos medicamentos.
Na pediculose do corpo, raramente os parasitas são encontrados ao longo do corpo e, portanto o diagnóstico deve ser baseado quase que exclusivamente nos sinais presentes na região, podendo ser feita a busca por piolhos em vestimentas, já que o Pediculus capittis encontra-se geralmente nas costuras da área do pescoço e cintura. Entretanto, como se tem o costume da troca constante de roupas, o parasita pode não ser encontrado. Deve ser feito o diagnóstico diferencial com sarna.
Sempre que um indivíduo apresentar-se com coceira na região pubiana, deve ser iniciada uma inspeção por piolhos na base dos fios. A presença de manchas cerúleas pode ser indicativo da infestação por Phthirius pubis. O diagnostico diferencial é estabelecido com a sífilis.

Medidas de Controle e Tratamento

Apenas o tratamento e isolamento do doente não é medida eficaz para o controle da pediculose. Medidas educacionais sobre hábitos higiénicos, e sobre a doença em si, mostram-se eficazes para o controle da doença.
O tratamento de cada tipo de pediculose é peculiar. Entretanto a coceira característica nos três tipos pode ser tratada com anti-histamínicos, enquanto que as infecções secundárias podem ser eliminadas por antibioticoterapia.
A pediculose do couro cabeludo é geralmente tratada com shampoos e loções associadas ao uso do pente fino que por vezes pode eliminar parasitas adultos e algumas lêndeas. A pirimetrina 1% na forma de loção é bastante eficaz, uma vez que adere ao couro cabeludo e cabelos intensamente, por várias semanas, não necessitando de novos tratamentos. O shampoo de Lindano (hexacloreto gamabenzeno 1%) é também bastante utilizado, de 7 a 10 dias, por cerca de 10 minutos a dia. A ivermectina, anti-helmíntico utilizado no combate a filariose, produziu resultados positivos no tratamento da pediculose do couro cabeludo.
A pediculose do corpo requer desinfecção de roupas e outros locais que possivelmente estão contaminados como camas e travesseiros. Após o banho o paciente pode aplicar loção ou creme de Lindamo por 24 horas ou também loções antipruriginosas. A aplicação única de benzoato de benzilo a 20% garante a desinfestação. Todos esses métodos são também eficazes para o tratamento da Pediculose pubiana. Cortar os fios dos cabelos e fios pubianos pode ser medida eficaz dependendo da gravidade da infestação, mas não garante a eliminação total dos parasitas. Medicamentos utilizados no combate a sarna (Benzocaína e guamexano), mostraram-se eficazes, quando aplicadas à noite, no tratamento da pediculose pubiana. A Ivermectina é eficiente para matar parasitas adultos.

  Referências Bibliográficas

1.    MARTÍNZ, A.G.D. Actualidades de la pediculosis. Revista Cubana de Medicina General Integral. Ciudad de La Habana, v.13, n.6, p. 610-8, 1997. Disponível em: http://scielo.sld.cu/scielo.php?pid=S0864-21251997000600015&script=sci_arttext. Acesso em 9 de novembro de 2012.

2.    BARBOSA, J.V.; et at. Pediculose no Brasil. Revista Entomologia y Vectores. V.10, n.4, p.579-586, 2003. Disponível em: http://phthiraptera.info/Publications/47001.pdf. Acesso em 12 de novembro de 2012

3.    CATALÁ, S.; et al. Prevalência e Intensidade da Infestação por Pediculus humanus capitis em Escolares de Seis a Onze Anos. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical. v.37, n.6, p.499-501, 2004. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rsbmt/v37n6/22458.pdf. Acesso em 14 de novembro de 2012.

4.    HEUKELBACH, J.; et al. Ectoparasitoses e Saúde Pública no Brasil: Desafios para Controle. Caderno de Saúde Pública. Rio de Janeiro, v.19, n.5, p. 1535-1540, 2003. Disponível em: http://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-311X2003000500032. Acesso em 17 de novembro

5.    LINARDI, P.M.; et al. Infestação por Pediculus humanus (Anoplura: Pediculidae) no Município de São Paulo. Revista de Saúde Pública. São Paulo, v. 32, n.1, p.77-81, 1998. Disponível em: http://www.scielosp.org/pdf/rsp/v32n1/2250.pdf. Acesso em 20 de novembro de 2012

6.    CUNHA, P.V.S.; et al. O Discurso do Professores Sobre a Transmissão da Pediculose Antes de uma Atividade Educativa. Revista Brasileira de Crescimento e Desenvolvimento Humano. V.18, n.3, p.298-307, 2008. Disponível em: http://www.revistasusp.sibi.usp.br/pdf/rbcdh/v18n3/09.pdf. Acesso em 20 de novembro de 2012

Links Relacionados

1.    Doenças transmitidas pelos piolhos. Disponível em:
http://ciencia.hsw.uol.com.br/piolhos2.htm

2.    ABC da Saúde - Pediculose. Disponível em:
http://www.abcdasaude.com.br/artigo.php?321

3.    Pediculose (piolho). Disponível em:
http://www.sbd.org.br/doenca/pediculose.aspx

4.    Controle da Pediculose: Um Projeto Educativo. Disponível em:

http://www.piolho.org.br/artigos/apostila.pdf

5.    Piolho (Pediculose). Disponível em:
http://drauziovarella.com.br/doencas-e-sintomas/piolho-pediculose/

6.    Chato (Pediculose Pubiana). Disponível em:
http://drauziovarella.com.br/doencas-e-sintomas/chato-pediculose-pubiana/

7.    Pediculoses. Disponível em:
http://www.ccms.saude.gov.br/saudebateaporta/mostravirtual/ingles/publicacoes/dermatologia_atencao2.pdf

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