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Autor: Grégori Conte Tondello

Colaboradores: Felipe G. Westphal, Felipe G. Palharini e Roger S. Bussman


Introdução

As cardiopatias adquiridas consistem nas doenças as quais ocorrem após o nascimento do indivíduo e se apresentam em um número de patologias de diversas origens que podem resultar em morbidade e mortalidades significativas. Pacientes com cardiopatia adquirida podem apresentar-se com uma enorme diversidade de sintomas e sinais, sendo que cada qual pode ser causado por etiologia não-cardiovascular. Paradoxalmente, pacientes com cardiopatias podem ser assintomáticos. Devido ao fato que de que a doença cardiovascular representa a principal causa de morte em vários países desenvolvidos (ex. EUA), é fundamental que os pacientes sejam criteriosamente avaliados para detecção precoce dos sintomas ou sinais da cardiopatia e estabelecida uma terapia adequada. O avanço da tecnologia somado com as melhorias no diagnóstico, terapia e prevenção contribuiu para a diminuição das taxas de mortalidade cardiovascular nos EUA no fim da década de 1960. Condições potencialmente fatais devem ser rapidamente detectadas pelo médico em pacientes com sintomas ou suspeita de doença cardiovascular para realização de procedimentos adequados. . Especificamente, a lista de cardiopatias adquiridas inclui: febre reumática, cardiomiopatias, endocardite infecciosa, miocardite, pericardite e doença de Kawasaki. Mais adiante serão abordados os aspectos mais relevantes de algumas cardiopatias adquiridas.


História para detecção dos Sintomas

Os sintomas de pacientes com cardiopatia adquirida normalmente podem ser identificados através de uma história clínica cuidadosa e completa. Entre eles, pode-se identificar:

Dor torácica

Está inclusa nos sintomas mais comuns mencionados por pacientes em uma entrevista médica, correlacionando-se com diversas etiologias, muitas vezes de difícil diagnóstico, e gravidade variável. Devido à intensidade da dor torácica nem sempre estar correlacionada com a gravidade da doença, algumas doenças banais podem cursar para dor intensa enquanto àquelas com morbidade mais relevante se apresentarem com dor menos intensa. Deve-se lembrar que a dor pode originar-se de diversas estruturas presentes na caixa torácica (aorta, artéria pulmonar, pleura, medula, duodeno e etc.), portanto é extremamente importante ao médico realizar uma anamnese programada em uma seqüência, que possibilite a análise rápida das diversas características da dor: tipo, localização, irradiação, duração, fatores de alívio e sintomas associados.

Dispnéia

Pode ser conceituada como uma percepção desconfortável da respiração e geralmente deve-se a doenças cardíacas ou pulmonares. A dispnéia aguda pode ser causada por isquemia miocárdica, hipertensão grave entre outros. A dispnéia crônica, em doenças cardiovasculares, geralmente é causada por aumento da pressão venosa pulmonar como resultado da insuficiência ventricular esquerda ou doença valvar.

Palpitações

Sensação não-objetiva de um batimento cardíaco irregular, podendo ser causado por qualquer arritmia. Quando associada com dor torácica, dispnéia, tonturas ou síncopes, geralmente se deve realizar um eletrocardiograma (ECG) para identificar se há ou não a presença de doença cardíaca.

Greg

Fonte: Cecil “Medicina Interna”, volume 1, capítulo 46, pág. 280







Epidemiologia

As cardiopatias atualmente podem ser consideradas como uma epidemia global, pois representam a quinta causa de óbito no mundo inteiro e, se não forem realizadas as medidas profiláticas adequadas, em 2010 será a primeira causa. Elas são responsáveis por 34% de todas as mortes em toda a América, o equivalente a 300.000 óbitos anuais ou 820 diários no Brasil, sendo predominantemente em mulheres. A taxa de mortalidade por doença cardíaca diminuiu mais de 40% desde 1968. A partir da observação de dados, inclusive os apresentados na tabela 1.2, logicamente apontam que as medidas preventivas, principalmente o melhor tratamento, contribuíram para a redução dos óbitos.


Fatores de risco

Diversos fatores de risco contribuem anualmente para o aumento da incidência de cardiopatias em toda a população. Por outro lado, funcionam como aspecto determinante na história clínica para serem abordados pelo médico durante uma entrevista clínica com o intuito de facilitar o diagnóstico. Entre eles, se encontram:

Tabagismo

Considerado um dos três principais fatores de risco para a doença cardíaca, é o único que pode ser totalmente eliminado, embora não seja fácil. Para diversas cardiopatias, a interrupção do hábito de fumar estabelece resultados expressivos, como exemplo: em aproximadamente dois anos, um ex-tabagista apresenta riscos quase idênticos a um não tabagista em adquirir doença arterial coronariana.

Hipertensão

É considerada um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, afetando cerca de 20% dos adultos em populações urbanas. A tabela abaixo demonstra a prevalência (%) de hipertensão arterial de acordo com a idade e sexo em uma amostra de trabalhadores da cidade de São Paulo.

Greg

Fonte: Manual de Cardiologia, capítulo 71, pág.308









Muitas drogas anti-hipertensivas estão disponíveis no mercado, porém antes de estabelecer um critério medicamentoso para um paciente portador de hipertensão, faz-se necessário uma extensa pesquisa para decidir qual é o melhor esquema para realizar o tratamento

Obesidade

A obesidade aumentou muito nos últimos anos por causas não completamente esclarecidas. Acredita-se que o sedentarismo, fast-food e porções alimentares em tamanhos maiores contribuem diretamente para o ganho exacerbado de massa gorda. A obesidade é fator de predisposição para o surgimento de cardiopatias adquiridas através do agravamento dos riscos de hipertensão, dislipidemias, diabetes melitus, aumento do LDL entre outros.

Álcool

O consumo de álcool possui uma peculiaridade interessante e um pouco contraditória. Através de diversos ensaios clínicos descobriu-se que a ingestão de, no máximo uma dose diária de bebida alcoólica pode trazer proteção contra as doenças cardíacas adquiridas. O mecanismo exato é pouco conhecido, porém acredita-se que há o aumento do colesterol “bom” (HDL). Em contrapartida, o consumo igual ou superior a três doses diárias de álcool está associado com o aumento da morbidade e mortalidade de todas as cardiopatias.


Pericardite

As doenças envolvendo o pericárdio são inflamatórias podendo ser infecciosas ou não e possuem diversas etiologias distintas. Diversos métodos invasivos, principalmente a biópsia pericárdica, atualmente têm sido utilizados para a detecção de algumas destas causas. A classificação das pericardites pode ser dividida etiologicamente e no âmbito clínico. A lista para ambos é extensa, portanto serão abordadas duas causas de pericardite em seguida

Pericardite Aguda Seca

A pericardite aguda seca é uma síndrome que envolve dor torácica anterior ou pré-cordial que se intensifica ao inspirar profundamente e atrito pericárdico, sendo este último um achado característico. Pode se apresentar sintomaticamente, em que a dor torácica pode eventualmente irradiar para o pescoço, região dorsal ou ombros, ou assintomaticamente, podendo ser passada despercebida. A Febre, tosse e história de processo infeccioso, geralmente das vias aéreas superiores, podem ser extremamente importantes no auxílio ao diagnóstico. Outro benefício que o médico pode ter para diagnosticar a pericardite aguda seca é identificar algumas alterações clássicas presentes no eletrocardiograma: elevação do segmento ST, tendência de normalização do segmento ST, inversão da onda T e volta ao padrão normal. A Tomografia computadorizada abaixo mostra o aumento das camadas do pericárdio (setas) e um pequeno derrame pericárdico.

Greg

Fonte: http://licurgosantiago.wordpress.com/2010/11/20/pericardite-aguda/














Pericardite Constritiva

A pericardite constritiva geralmente tem etiologia desconhecida e está englobada na lista das pericardites crônicas, entretanto há literaturas as quais dizem que a causa pode ser subseqüente de qualquer doença que provoque pericardite aguda. Contradições a parte, sabe-se que esta pericardite deriva de um espessamento do pericárdio com restrição do enchimento diastólico do coração e posteriormente evolução para a diminuição do débito cardíaco. A forma clínica constritiva das pericardites não é muito freqüente no âmbito médico, porém geralmente quando diagnósticas, ocorre tardiamente podendo aumentar a chance de óbito do paciente.


Endocardite Infecciosa

Doença infecciosa que acomete o endocárdio, freqüentemente causada por bactérias, com destaque para os estreptococos e estafilococos, mas eventualmente pode ser causada por algum tipo de fungo. A patogênese envolve um mecanismo complexo envolvendo células sanguíneas, fatores plasmáticos e proteínas. O início ocorre após a infecção pelo respectivo agente etiológico e disseminação do patógeno. Algumas alterações estruturais cardíacas podem ser evidenciadas em um paciente portador de EI, principalmente disfunções valvares e, considerando a dificuldade de diagnosticar esta síndrome, podem servir como um apoio ao médico. O diagnóstico, segundo a Sociedade Européia de Cardiologia, é estabelecido durante a ocorrência de uma infecção sistêmica concomitantemente com uma hemocultura positiva ou DNA bacteriano encontrado. Pacientes sob suspeita de Endocardite infecciosa devem ser submetidos ao exame eletrocardiográfico para evidenciar alguma possível anomalia anatômica, alterações hemodinâmicas ou crescimento vegetativo cardíaco. Estes critérios mencionados estão incluídos nos “critérios de Duke” e podem ser úteis, principalmente a um médico recém formado que apresente dificuldades devido à amplitude de formas em que a EI se apresenta.

Greg

Fonte: “Manual de Cardiologia, capítulo 59, pág. 257











Cardiomiopatia Dilatada

Esta doença miocárdica primária progressiva, antigamente chamada de cardiopatia congestiva, consiste na cardiopatia mais freqüente representando 90% delas e estima-se que a ocorrência gira em torno de 5 a 8 casos a cada 100.000 habitantes. A principal característica desta patologia é o acometimento do ventrículo direito, de ambos ou dos átrios, resultando em dilatação. Outro achado relevante na C.D é a predominância dos sintomas de insuficiência cardíaca esquerda com dispnéia progressiva e eventualmente ortopnéia. A tabela 1.5 apresenta os fatores prognósticos na Cardiomiopatia Dilatada (C.D), os quais podem ser estabelecidos através de estudos em frações da população escolhida, subdivididos em graus varáveis de risco. Os resultados podem ser mais bem obtidos a partir da evolução dos pacientes do protocolo da pesquisa e a biópsia endomiocárdica do ventrículo direito é considerada um fator invasivo importante para estabelecimento do prognóstico. Um viés de estudo pode acontecer pelo fato de que os pacientes podem permanecer por diversos meses ou até anos assintomáticos. As principais causas que resultam na C.D são resumidas na figura 1e é interessante observar que diversas causas são comuns em outras cardiopatias, como é o exemplo do alcoolismo e da doença de Chagas. O tratamento da Cardiomiopatia Dilatada consiste na educação alimentar concomitantemente com a prática de exercícios físicos e uso de fármacos específicos. A dieta deve ser pobre em sódio e o consumo de água deve ser restrito quando a concentração de sódio é inferior a 130 mEq/l. As drogas mais utilizadas são: Diuréticos, vasodilatadores, antiarrítmicos entre outros.


Prevenção

O dia mundial do coração em 2011 foi comemorado no dia 29 de Setembro permitindo que as pessoas se conscientizem com o impacto que as cardiopatias representam na sociedade atualmente e também as melhores maneiras de prevenir esta patologia que, através de estimativas, será responsável pelo óbito de aproximadamente 23,6 milhões de pessoas até 2030. Algumas medidas profiláticas para prevenir ou diminuir as chances de adquirir cardiopatias são as seguintes:

- Não adquirir o hábito de fumar; praticar constantemente exercícios físicos por, no mínimo, 30 minutos todos os dias.

- Estabelecer uma dieta rica em frutas e verduras, pobre em gorduras e limitar o uso de sal nos alimentos são fundamentais na prevenção de cardiopatias e ataques fulminantes.

- Fazer um check-up da pressão sanguínea, glicemia e lipidograma completo, principalmente os suscetíveis ou indivíduos com idade avançada, é fundamental para controlar o risco de doenças cardiovasculares.

Portanto, apesar da mortalidade por cardiopatias ainda representar uma das 5 principais causas em países desenvolvidos, uma profilaxia adequada, simultaneamente com o uso dos medicamentos apropriados àqueles que necessitam, podem reduzir significativamente o número de mortes.


Referências Bibliográficas:

1. TIMERMAN, A.; CÉSAR L.A.M. Manual de Cardiologia. São Paulo: Atheneu, 2000. 590p.

2. AUSIELLO, D; GOLDMAN L. Cecil: Tratado de Medicina Interna. Tradução da 22ª Edição. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. v.2. 1280p.

3. Mendis, S.; Puska, P.; Norrving, B. Global atlas on cardiovascular disease prevention and control: Policies, strategies and interventions. Genebra: World Health Organization, 2011. 164p. Disponível em: <http://www.who.int/en/>. Acesso em: 08 nov. 2011.

4. Caramelli, B.; Calderaro, D.; Gutierrez, P.; et all. Diretrizes em foco: Endocardite Infecciosa. Revista da Associação Médica Brasileira, São Paulo, 2004; 50 (2):109-26.

5. Lima, M.V; Cardose, N.J.; Limaco, R.P. Pericardite constritiva com calcificação extensa. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, São Paulo, v.96, n.1, jan. 2011. Disponível em: <http://www.scielo.br/>. Acesso em: 08 nov. 2011.


Links Relacionados:

1-Febre Reumática disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-89101979000100001&lng=pt&nrm=iso

2-Epidemiologia cardíaca disponível em

http://pt.scribd.com/doc/40092229/5-As-Cardiopatias-no-Brasil-%E2%80%94-Epidemiologia

3-Biópsia pericárdica disponível em

http://www.scielo.br/pdf/abc/v70n6/3314.pdf

4-Pericardite construtiva disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0066-782X2011000100018&lng=pt&nrm=iso

5-Endocardite infecciosa disponível em

http://www.scielo.br/pdf/ramb/v50n2/20762.pdf

6-Cardiomiopatia dilatada disponível em http://www.saj.med.br/uploaded/File/artigos/Cardiomiopatia%20Dilatada.pdf

--Grégori Tondello 21h36min de 1 de dezembro de 2011 (UTC)

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