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Autora: Patrícia Constantini Kreling

Colaboradoras: Ana Paula da Silva Maganhoto e Andressa da Silva Elicker


A Doença

A hanseníase (antigamente conhecida como lepra) é uma doença infecto-contagiosa, ou seja, que produz infecção e se transmite por contágio. Ela é provocada por uma bactéria, que será caracterizada mais adiante. A doença é relatada desde os tempos bíblicos, porém ainda é envolvida em muitos preconceitos e estigmas. Abaixo, uma iluminura catalã do século 14 mostrando o personagem bíblico Jó atingido pela hanseníase:

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Fonte: Adaptado de www.fiocruz.br

Desde os seus primeiros relatos, a hanseníase foi associada a desonras física e moral, e foi lançada para o lado mais obscuro da sociedade. Os doentes, conhecidos como leprosos, eram isolados da sociedade nos chamados leprosários, que ficavam em regiões afastadas das cidades. Essa exclusão era a única forma de tratamento conhecida até meados do século XX. A hanseníase é encontrada no mundo todo. Foi endêmica na Europa até o século XIX, local onde é considerada rara atualmente. A doença permanece como um problema grave de saúde pública em nove países do mundo: seis na África, dois na Ásia, e o Brasil. Estima-se que existam no mundo de 1 a 2 milhões de pessoas diagnosticadas com a hanseníase e são relatados cerca de 400 mil novos casos por ano.


Agente Etiológico

Agente etiológico é a denominação do organismo responsável por causar determinada doença. No caso da hanseníase, o agente etiológico é a bactéria Mycobacterium leprae, também conhecida como Bacilo de Hansen. A bactéria em formato de bastão foi descrita pela primeira vez pelo médico norueguês Gerhard Armauer Henrik Hansen, em 1873. Essa bactéria foi considerada a primeira descoberta por causar doença no ser humano.

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Fonte: sciencephotolibrary.com

A Mycobacterium leprae pertence à ordem ActinomyceIalis e família Mycobaderiaceae. Possui a forma de um bastão reto ou levemente encurvado, medindo de 1 a 8 milímetros de comprimento e 0,3 milímetros de diâmetro. É uma bactéria resistente a ambientes ácidos e alcoólicos, e parasita celular obrigatório, ou seja, precisa estar dentro de uma célula para se reproduzir. A reprodução ocorre pelo processo de divisão binária e é muito lenta, durando de 12 a 14 dias. A bactéria pode ser corada pelo método de Gram. O bacilo ainda não pode ser cultivado in vitro. Para que possa ser estudado, ele é cultivado em tatus e injetado nas patas de camundongos.


Transmissão

A hanseníase não é altamente contagiosa, e para que se adquira a doença é necessária uma exposição contínua e prolongada a uma fonte de infecção. Apenas os pacientes não tratados são fontes de infecção. Aqueles que já iniciaram e seguem corretamente o tratamento não são mais capazes de transmitir a doença.

A transmissão da infecção ocorre principalmente pela via respiratória, através da inalação de aerossóis infectados (secreções nasais, gotículas da fala, tosse, espirro). Poucos organismos são transmitidos por contato com as lesões de pele. Há ainda a possibilidade de infecção por contato com animais que carregam a bactéria.

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Fonte: fundacaohanseniase.org.br

O período de incubação da doença é de 3 a 5 anos, ou seja, depois de infectado o doente demora de 3 a 5 anos para manifestar os primeiros sintomas. Acredita-se que aproximadamente 95% da população seja naturalmente resistente ao bacilo.


Fisiopatologia

Quanto mais linfócitos, células brancas presentes no sangue e na linfa que atuam no sistema imunológico, existirem nas lesões de pele, menos bactéria existirá. As pessoas que apresentam resposta imunológica ao M.leprae baseada nos linfócitos T auxiliares do tipo 1 possuem poucas lesões na pele e poucas bactérias nas lesões. Já as pessoas que apresentam uma resposta imunológica baseada nos linfócitos T auxiliares do tipo 2 possuem maior número de lesões na pele e grande número de bactérias nas lesões. O motivo principal dessa diferença de resposta do organismo à bactéria ainda não é completamente conhecida. A lesão dos nervos das extremidades do corpo, que é a principal consequência da infecção por M. leprae, ocorre em todas as formas de hanseníase. Essa lesão ocorre porque a bactéria invade as células de Schwann, células que envolvem os neurônios, formam a bainha de mielina e auxiliam na transmissão dos impulsos nervosos. Com isso, essas células são lesadas, assim como a bainha de mielina, retardando a transmissão dos impulsos nervosos, principalmente os de sensibilidade.


Manifestações Clínicas

O sintoma mais conhecido da hanseníase é a presença, na pele, de manchas brancas ou avermelhadas, com perda de sensibilidade ao frio, calor, dor e tato e com alteração na secreção de suor. No início da doença, a dormência é restrita à lesão. Se não tratada, pode se espalhar, destruindo nervos e levando a perdas completas de sensibilidade. A falta de sensibilidade faz com o que paciente perca a capacidade de sentir dor. Com isso, podem haver mutilações por lesões repetitivas, principalmente nas exterminadas, pois o doente não consegue percebe-las. A hanseníase pode ser clinicamente classificada em três tipos principais: tuberculoide, lepromatosa e borderline.

•Hanseníase Tuberculóide

Caracterizada pela presença de menos de cinco lesões na pele. Essas lesões são manchas mais claras que a cor normal da pele do indivíduo ou avermelhadas com bordas avermelhadas elevadas. Em geral, as lesões na pela da hanseníase tuberculóide apresentam pouca ou nenhuma sensibilidade. As manchas são grandes e mais comuns na face, no tronco e nas extremidades. É uma forma estável. As lesões tuberculóides apresentam linfócitos abundantes, granulomas bem formados e poucas bactérias.

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Hanseníase Tuberculóide. Fonte: sciencephotolibrary.com

•Hanseníase Lepromatosa

Caracterizada pela presença de várias lesões na pele, menores que as presentes na forma tuberculóide. As manchas geralmente a borda pouco definida e não apresentar perda de sensibilidade. Além das manchas, podem aparecer nódulos ou placas. Essas lesões podem provocar a perda dos supercílios, pois adentram na pele. É uma forma estável. As lesões lepromatosas apresentam poucos linfócitos, granulomas mal formados ou ausentes e grande número de bactérias.

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Hanseníase Lepromatosa. Fonte: globale-dermatologie.com

•Hanseníase Borderline

Caracterizada pela presença de lesões da pele semelhantes às da hanseníase tuberculóide, mas em número maior. As lesões geralmente se apresentam em forma de placas e não de manchas. É uma forma instável, que pode apresentar características tanto da forma tuberculóide quanto da lepromatosa.

Diagnóstico

O diagnóstico da hanseníase é realizado de duas formas: clínico, em que o médico faz testes nas lesões, como o teste de sensibilidade à temperatura, com dois tubos de vidro, um com água fria e outro com água quente; e laboratorial, através de exame microscópico do tecido da pele infectado, em busca dos bacilos.


Tratamento

A hanseníase tem tratamento e, o mais importante, tem cura. O tratamento é gratuito e pode ser adquirido nas unidades de saúde. Ele é realizado via oral e contém a associação de dois ou três medicamentos, recebendo a denominação de poliquimioterapia. Quanto mais cedo por feito o diagnóstico, mais rápida e fácil é a cura.

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Fonte: sciencephotolibrary.com

Hanseníase no Brasil

No Brasil, a Hanseníase é uma doença de notificação obrigatória e importante problema de saúde pública. A doença acometeu aproximadamente 488 mil pessoas até agosto de 2010, sendo então uma preocupação constante dos órgãos governamentais de saúde.

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Fonte: Ministério da Saúde. Vigilância em Saúde: situação epidemiológica da hanseníase no Brasil. 2008.

O Programa Nacional de Eliminação da Hanseníase do Ministério da Saúde, com a última versão implantada de 2006 e com duração de quatro anos, tem por objetivo orientar os diversos tipos de serviços de saúde nas diversas ações de promoção e educação em saúde, para tentar diminuir essa doença entre a população.

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Fonte: portal.saude.gov.br


Referências Bibliográficas

__.Agência de Notícias da Fundação Oswaldo Cruz. Disponível em http://www.fiocruz.br/ ccs/especiais/hanseniase/hanseniase5.htm. Acessado em 24/11/2010.

Goldman L, Ausiello D: Cecil Medicina. 23 ed. Elsevier. 2009.

Mims C, e colaboradores: Microbiologia Médica. 3 ed. Elsevier. 2005.

Macieira S:Aspectos Microbiológicos do Mycobacterium leprae. Disponível em: http://hansen.bvs.ilsl.br/textoc/livros/OPROMOLLA_DILTOR_nocoes/ PDF/ aspecto_leprae.pdf. Acessado em: 17/11/2010.

__. Ministério da Saúde. Caderno de Atenção Básica nº 10 – Guia para o controle da Hanseníase.

__. Ministério da Saúde. Plano Nacional de Eliminação da Hanseníase em nível municipal 2006 - 2010. Brasília, 2006.

__. Biblioteca Virtual em Saúde. Dicas em Saúde - Hanseníase. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/html/pt/dicas/61hanseniase.html. Acessado em: 17/11/2010.

__. Manual Merck Saúde para a Família. Disponível em: http://mmspf.msdonline.com.br/pacientes/manual_merck/secao_17/cap_182.html. Acessado em: 17/11/2010.


Links Relacionados

Sociedade Brasileira de Hansenologia. [1]

Fundação Paulista Contra a Hanseníase [2]

American Leprosy Missions [3]

Hanseníase na Organização Mundial da Saúde [4]

Agência de Notícias da Fundação Oswaldo Cruz [5]

Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase [6]

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