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Editora: Ana Fátima Volkmann Colaboradores: Cristiane Farias Heinzen, Karine Krueger e Kelen Cristina Alves Bezzerra

Introdução

A epilepsia é bastante freqüente, podendo ocorrer em qualquer idade, raça ou sexo. Reúne vários tipos de crise que estão ligados a muitas condições. Essas crises são devidas a uma alteração no funcionamento do cérebro; isso acontece quando algumas células nervosas descarregam exageradamente, deixando de funcionar de forma normal e aparecem as crises epiléticas. Podem ter como causa, entre tantas outras, um traumatismo craniano, problemas congênitos ou ao nascimento, ou ainda infecções graves como as meningites.

Quando essa descarga ocorre em todo o cérebro é denominada crise generalizada e quando ocorre apenas em uma parte do cérebro é chamada crise parcial.

Mas ainda hoje existem muitas idéias erradas sobre este assunto. Isso causa muitas dificuldades para a pessoa que é epiléptica. Também é comum que o portador de epilepsia não faça o tratamento da maneira que seu médico informou, deixando de adquirir benefícios importantes para sua vida.

Histórico

A palavra epilepsia tem origem do grego e significa "tomar de surpresa" devida à forma inesperada e súbita como a crise convulsiva começa.

Os povos antigos acreditavam que a epilepsia era resultado de intervenções dos deuses ou possessão do demônio ou de espíritos maus, isso porque eles não tinham conhecimento que a epilepsia é um sintoma e não uma praga como se imaginava naquele tempo.

Ainda hoje existem várias crenças populares erradas sobre esse assunto, como, por exemplo, que todo epilético tem retardo mental, distúrbio de comportamento, dificuldades escolares, incapacidade para o trabalho ou para outras atividades.

É claro que todos esses mitos existem por desconhecimento sobre a epilepsia, que é um sintoma (manifestação de alguma coisa que a provoca), ou seja, uma conseqüência e não a causa. A epilepsia pode tanto ser um sintoma como uma doença isolada.

Vale ressaltar que convulsão não significa epilepsia, e que a epilepsia não é tão rara como se pensa. Várias pessoas famosas convivem ou conviveram com a epilepsia como, por exemplo, Machado de Assis e Vicent Van Gogh.


Auto-Retrato de Van Gogh Fonte: www.comciencia.br


Retrato de Machado de Assis Fonte: www.comciencia.br

Preconceitos

Entre alguns preconceitos estão:

   * Retardo mental: a maior parte dos epilépticos tem inteligência normal.
   * Infecciosa/ contagiosa: não se "pega" epilepsia de jeito nenhum de outra pessoa.
   * Agressividade: a pessoa pode reagir de forma brusca quando segurado violentamente na parte final da crise, mas de forma inconsciente na maioria das vezes, sendo esta reação bastante incomum.
   * Loucura: epilepsia é uma tendência a ter crises repetidas, mas não causa loucura.

Definição


Divisão do cérebro por áreas Fonte: http://www.c5.cl/ieinvestiga

Convulsão é uma série de contrações súbitas e involuntárias dos músculos. O termo correto para convulsão é crise epiléptica. Depende do local do cérebro, onde a descarga elétrica anormal afetará. Qualquer coisa que irrite o cérebro pode produzir uma convulsão. O ataque pode durar um tempo muito variável de segundos a horas, na maioria das vezes de poucos minutos (cerca de 2 a 5 minutos). Quando a pessoa retorna da crise pode se queixar de dor de cabeça, dor muscular, sensações raras e cansaço extremo, normalmente ela não recorda de nada o que aconteceu durante a convulsão.

Já epilepsia é uma síndrome cerebral crônica caracterizada por um conjunto de sinais e/ou sintomas que envolvem manifestações motoras, sensitivas, psíquicas devido uma descarga neural anormal, ou seja, é uma perturbação da saúde da qual ocorrem crises, convulsões ou ataques repetidos.

Não se deve confundir epilepsia com crise epilética, da qual, esta corresponde a um episódio isolado.

Epidemiologia

Em algum momento da vida 2% da população adulta tem uma convulsão e destas um terço tem convulsões recorrentes (epilepsia) e destes 50 % tem alguma alteração no eletroencefalograma (EEG) ou na ressonância magnética (RNM). No Brasil estima-se que três milhões de pessoas tem epilepsia. A incidência e a prevalência são maiores em crianças e idosos.

As pessoas com epilepsia da qual não se sabe a causa tem sua primeira crise entre os 2 e 14 anos. Crise antes dessa idade pode ser causa de algum defeito cerebral ou febre muito alta.

Causas

Convulsão pode ocorrer por vários motivos como:

   * Infecções e febre alta: meningite, infecções, AIDS, sífilis, tétano, toxoplasmose, encefalites, golpe de calor;
   * Alterações do metabolismo: hipotiroidismo, hipoglicemia, hipocalcemia, insuficiência renal ou hepática, fenilcetonúria, homocistenúria, galactosemia, leucodistrifias;
   * Pouca oxigenação do cérebro: intoxicação por monóxido de carbono, pouco aporte de sangue para o cérebro, sufocação e afogamento;
   * Por destruição de tecido cerebral: tumor cerebral, traumatismo craniano, hemorragia cerebral, doenças degenerativas;
   * Abstinência: álcool, anfetaminas, algumas medicações, tranqüilizantes;
   * Efeito colateral de alguns remédios: clorpromazina, imipenem, fenitoína, teofilina;
   * Outras doenças: eclampsia, encefalopatia hipertensiva, lúpus eritematoso sistêmico, doenças cerebrais congênitas, rubéola congênita, fórceps mal aplicado durante o parto, trauma no parto;
   * Outras causas: estímulo visual repetitivo (luzes piscando, televisão mal regulada, videogames), sons...

Algumas condições podem facilitar o aparecimento ou aumentar o número de crises, como o uso irregular da medicação (que corresponde a grande maioria dos casos), períodos curtos de sono, álcool, tensão emocional ou períodos menstruais.

Na maioria dos casos não se conhece a causa da epilepsia. Vale ressaltar que boa parte das convulsões são de causa primária, ou seja, desencadeadas.

Classificação


Quadro clínico

Os sinais e os sintomas irão depender do tipo de crise e da localização no cérebro aonde elas ocorrem. Podendo a pessoa estar consciente ou não. São divididas em:

1. Crises generalizadas

   * Crise Mioclônica:

São contrações inesperadas de grupos musculares, que causam movimentos em todo o corpo ou parte dele, e duram pouco tempo. A pessoa pode lembrar de tudo por causa de sua curta duração.

   * Crise Tônica:

É uma rigidez dos músculos da qual a pessoa fica toda dura e a sua duração é variável.

   * Crise Clônica:

Corresponde a uma contração rítmica em todo o corpo de duração variável. A pessoa curva o tronco para trás, ocorre perda da consciência, e dura poucos segundos, ela cai ao chão, pode também morder a língua e não apresenta movimentos de contração rítmica (clônia). Depois ela fica confusa, com dor de cabeça e sonolência.

   * Crise atônica:

A pessoa perde rapidamente o tônus muscular caindo ao chão se ela estiver de pé. Ocorre perda da consciência breve que duram alguns segundos e ela não apresenta movimentos rítmicos dos músculos (clônia). Depois da crise ela fica confusa, com dor de cabeça e bastante sonolenta. Normalmente ocorre quando a pessoa se levanta muito rápido de um lugar.

   * Crise Tônico–Clônica Generalizada (chamada durante muito tempo de grande mal):

Esta é a mais freqüente das crises generalizadas. A pessoa perde subitamente a consciência, caindo, fica com o corpo endurecido (fase tônica) por alguns segundos, seguidos por movimentos em forma de tremores repetidos (fase clônica) que dura em torno de um minuto. Na crise ocorre uma respiração anormal que se torna ruidosa além de salivação excessiva. A pessoa pode urinar e morder a língua, por isso a saliva pode se tornar vermelha. Normalmente a pessoa não sofre, não sente dor e não lembra do que aconteceu com ela. A recuperação dura em torno de 5 a 15 minutos e ocorre de forma lenta e após a crise a pessoa pode ficar confusa, sentir dor de cabeça e no corpo, ânsia de vomito, mal-estar e sono.

   * Ausência:

São mais freqüentes em crianças e adolescentes entre 5 a 15 anos. As crises são rápidas com recuperação imediata. Não ocorrem convulsões e a perda da consciência é breve. A pessoa fica desligada por alguns momentos, geralmente de 5 a 20 segundos, podendo ocorrer várias vezes num mesmo dia. Ela sabe informar o que ocorreu ao seu lado, mas não responde ao ser chamada. O olhar fica parado, vago, para o infinito, pode apresentar movimentos involuntários de língua, mãos, deglutição e de pálpebras e não ocorre queda ao chão. Ocorre com maior freqüência quando a pessoa está cansada e sonolenta.

2. Crises parciais:

As características irão depender da região do cérebro atingida, pois a crise ocorre apenas em uma parte do cérebro. Em algumas crises podem não existir movimentos, perda de sentido, mas podem ocorrer sensações diferentes sem qualquer motivo. A pessoa pode ouvir sons estranhos, ver bolas ou estrelas, pontos brilhantes ou coloridos, sentir cheiros e gostos ruins. Ela também pode ter a impressão de que o lugar ou as pessoas que ela conhece são estranhos ou que não os reconhece. A pessoa pode perder a consciência, e sem que ela perceba pode começar a fazer movimentos como de mastigar, engolir, alisando a roupa, mexer nos bolsos. Às vezes ela pode andar, falar coisas incompreensíveis, demonstrar medo ou tristeza e depois referir que não se lembra de nada o que aconteceu.

   * Crise parcial complexa

O paciente começa a experimentar sensações "estranhas" e "sai do ar" por períodos que vão de segundos a poucos minutos, podendo permanecer com os olhos abertos e fazer movimentos sem que a pessoa perceba, movimentos de deglutição, lingual, labial ou movimentos de mãos como esfregar, alisar ou pegar objetos sem finalidade.

   * Crise parcial simples:

O paciente não tem alteração de consciência, mas pode dizer que teve movimentos musculares em um lado do corpo, sensações alteradas nos braços, pernas ou rosto, ânsia de vômito, mal estar no estômago ou cheiro e gosto estranhos.

3. Mal epilético:

É uma convulsão que dura mais que 30 minutos, sem que a pessoa recupere a consciência. A duração da atividade convulsiva para atingir o estado de mal epilético varia, podendo o estado convulsivo acarretar em lesão cerebral irreversível. A taxa de mortalidade do estado de mal epilético é de cerca de 10%

Situações não epiléticas

Algumas situações podem ser confundidas com uma crise epilética como:

   * Desmaio simples: a pessoa se sente mal, queixa-se de escurecimento da visão e cai perdendo os sentidos por alguns segundos. Ela fica pálida (branca) e com muito suor.
   * Nervosismo: ocorre por uma tensão nervosa. A pessoa tem sensação de sufocação, sensação de morrer, além de choro e agitação.
   * Perda do fôlego: normalmente ocorre quando a criança se machuca. Ela começa a chorar, perde o fôlego e desmaia.
   * Terror noturno: durante a noite a criança começa a gritar, demonstrando medo. Normalmente, depois ela não lembra de nada do que aconteceu.
   * Hipoglicemia (diminuição do açúcar no sangue): A criança torna-se sonolenta, irritada, não quer conversa e sua frio. Basta oferecer um pouco de açúcar na forma de bala, mel ou refrigerante para acabar com essa situação.
   * Convulsões febris: normalmente ocorrem em crianças entre 6 meses e 5 anos, que tem febre devido a uma doença não localizada no cérebro. Duram alguns minutos e na maioria das vezes não ocorrem complicações para o cérebro.

Como reagir diante de uma crise

Se você estiver acompanhando uma pessoa que está tendo uma crise é importante deixar que a convulsão acalme e ajudar a pessoa da seguinte forma:

   * Fique calmo e acalme as pessoas ao seu lado.
   * Retire a pessoa do local apenas se ela está correndo algum risco de vida devido ao local como, por exemplo, no meio do transito, perto do fogo ou da água.
   * Dobre uma roupa ou toalha e coloque embaixo da sua cabeça, para não bater diretamente no chão.
   * Afrouxe as roupas apertadas.
   * Após os movimentos acabarem vire a cabeça da pessoa de lado, deixando a saliva escorrer pela boca para melhorar a respiração.
   * Conforte a pessoa ficando do seu lado, converse com ela explicando o que aconteceu. Ela vai sentir sonolência e pode dormir um pouco.
   * Se ela se machucar você deve lavar os ferimentos pequenos com água e sabão e cobrir com uma gaze ou pano limpo. Já os ferimentos mais graves, queimadura ou cortes você deve levar a um atendimento médico para os devidos cuidados.

O que não se deve fazer diante de uma crise

   * Nenhuma medicação deve ser aplicada;
   * Não movimente a pessoa, a menos que ela esteja correndo risco de vida ficando neste local;
   * Não tente segurar a pessoa, ou seja, seus movimentos, você pode machucar a si mesmo e a outra pessoa;
   * Não coloque nada na boca da pessoa principalmente a sua mão, pois ela na crise pode morder sem querer a sua mão;
   * Não dê líquidos, como água ou comida para a pessoa, ela pode se afogar com isso.

Pois essas atitudes podem piorar ainda mais a situação.

Diagnóstico

É feito principalmente pela história ordenada e seqüencial dos sintomas que o paciente, a família ou testemunhas da crise informam para o médico.

Algumas perguntas devem ser respondidas como o tempo de duração da crise, freqüência em que tem a crise, que período do dia ocorreram, o que a pessoa estava fazendo antes de ter a crise, o que ela sentiu antes de ter a crise, quantas crises essa pessoa teve e o intervalo entre elas, movimentos que ocorreram, se houve perda de urina ou fezes, mordedura da língua, quanto tempo a pessoa levou para se recuperar, houve desmaio (perda da consciência). Isso ajuda a caracterizar a crise, esclarecendo onde está ocorrendo a alteração no cérebro.

Podem ser utilizados exames laboratoriais, como de sangue, de líquor, glicemia e eletrólitos, para avaliar uma causa ou descartar alguma outra causa.

Os seguintes exames de imagem podem ser feitos; o eletroencefalograma (EEG) que avalia a atividade elétrica do cérebro e com isso descargas anormais do cérebro; a tomografia computadorizada (TC); e a ressonância nuclear magnética (RNM) para excluir tumores cerebrais, acidentes vasculares, lesões ou cicatrizes causadas por traumas.


EEG normal Fonte: www.janssen-cilag.sk


EEG durante uma crise epiléptica Fonte: www.epilepsiaonline.com.br


Tomografia Computadorizada mostrando lesões cerebrais Fonte: http://www.hcanc.org/


Ressonância Magnética Nuclear que mostra um tumor metastático cerebral Fonte: http://neurologiaonline.com.br

Tratamento

É importante sempre procurar um atendimento médico para serem realizados exames e dar o diagnóstico correto sobre o tipo de epilepsia. O médico irá avaliar a forma de tratamento mais adequada para o tipo específico para cada pessoa e para cada tipo de crise.

Cerca de 70% das epilepsias são tratáveis e a maioria destas são curáveis.

Para o tratamento da convulsão são utilizados os anticonvulsivantes. Deve o seu uso ser feito de forma correta, de acordo com a dose, período e de acordo com os horários informados pelo médico para um melhor controle das crises.


Tratamento medicamentoso Fonte: http://iris.cnice.mecd.es


Anticonvulsivantes Fonte: http://unifesp.br/comunicacao

Prevenção

Deve ser feita através de orientações, da educação dos pacientes informando o que a pessoa deve evitar para não desencadear outra crise e a forma do tratamento que ela deve utilizar para que tenha uma vida normal como qualquer outra pessoa.

Através da comunidade, com informações de como ajudar uma pessoa que está tendo uma crise epiléptica, desta forma a ajuda estará sendo feita de forma correta e não complicando ainda mais o seu estado naquele momento.

Convivendo com a epilepsia

A pessoa que convive com a epilepsia vive enfrentando preconceitos e limitações.

Na infância a epilepsia preocupa os pais que imaginam as dificuldades que eles irão enfrentar.

Sobre a alimentação não existem recomendações especiais a serem seguidas.

Exercícios físicos podem ser praticados, quaisquer tipos desde que não de forma exagerada. Não são recomendados esportes como a natação, andar de bicicleta em via pública, surf, pesca submarina, vôo livre, alpinismo e automobilismo se a doença não estiver bem controlada.

A doença não interfere no aproveitamento escolar, podendo a criança freqüentar normalmente a escola. As pessoas com crise de ausência podem sofrer alguma intervenção no rendimento, mas com a medicação adequada isso pode ter grande melhora.

O trabalho é de grande importância para que a pessoa se sinta útil diante da sociedade. A maioria dos epiléticos pode trabalhar normalmente, mas devem ser evitadas profissões que o exponham ao perigo de vida como motorista, policial, bombeiro, salva-vidas...

O epiléptico deve informar aos seus companheiros de trabalho sobre a sua condição e explicar o que é a epilepsia para que eles possam ajudar durante a crise e mesmo compreender a sua situação e com isso sofrer menos rejeição.

A inatividade pode piorar, aumentando o número de ataques, e conseqüentemente com as atividades mentais e físicas as crises podem ser amenizadas.

Para dirigir veículos é necessário que a doença esteja bem controlada, com medicamentos, para não oferecer perigo nem para a pessoa e nem para as outras ao seu redor

Referências Bibliográficas

  1. SILVA, José Alberto Gonçalves da. Fundamentos de neurologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1979.
  2. GOLDMAN et al. CECIL. Tratado de Medicina Interna. 21.ed.. Rio de Janeiro:Guanabara Koogan, 2001.
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  4. ROWLAND, Lewis. Merritt: Tratado de neurologia. 10. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002.
  5. BEHRMAN, R. E., KLIEGMAN, R. M. Nelson Princípios de Pediatria. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1999.
  6. http://www.epilepsia.org.br/

Sites relacionados:

  1. http://www.medicinal.com.br
  2. http://www.santalucia.com.br/
  3. http://www.viamedico.com.br
  4. http://www.epilepsiaonline.com.br
  5. http://www.comciencia.br/reportagens/epilepsia.img.elza7.jpg.htm
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